Efeito echo chamber das redes sociais e seu necessário enfrentamento

JOTA.Info 2021-06-18

O ano de 2016 desencadeou uma intensa onda de críticas às redes sociais. Aquele foi o ano de dois eventos políticos inesperados: o Brexit; e a eleição de Donald Trump. Perplexos, os especialistas passaram a buscar respostas para aquelas duas surpresas que ameaçavam a ordem política estabelecida. Os olhos de todos se voltaram para plataformas como o Facebook e o Twitter, fundadas em 2004 e 2006, e que já eram vistas, pelo menos desde a Primavera Árabe, como elementos revolucionários em matéria de organização de grupos de interesse, de facilitação do acesso à informação e da livre e fácil manifestação de opiniões pessoais.

Uma visão mais negativa dos efeitos das redes só surgiu a partir de 2016. Dois anos depois, com o escândalo da Cambridge Analytica, que adquiriu e utilizou informações de milhões de usuários do Facebook para prestar consultoria política para as campanhas do Brexit e de Trump, essa tendência crítica se intensificou.

Atualmente, as campanhas políticas têm acesso a tecnologias que permitem utilizar os dados das redes sociais para classificar os eleitores em diferentes grupos conforme valores e prioridades diversos. Isso possibilita o direcionamento de mensagens customizadas de acordo com a categoria de pessoas que se deseja convencer, influenciando a opinião de toda uma parcela da sociedade, muitas vezes daqueles milhares ou milhões necessários para vencer uma eleição.

Utilizando técnicas mais rudimentares, mas se valendo do enorme potencial de divulgação das redes, que permitem que com pouco dinheiro seja possível atingir um número muito grande de pessoas, o atual Presidente do Brasil obteve uma vitória eleitoral que a maior parte dos especialistas considerava improvável no início da campanha. Embora toda eleição seja o resultado de uma conjuntura, é possível dizer que Bolsonaro nunca teria sido eleito sem as redes sociais.

É evidente, portanto, que as redes sociais têm uma enorme relevância para a política atual. Embora haja motivos para temê-las, elas também nos dão razões para sermos otimistas. Uma rede social pode espalhar desinformação e ódio, alimentar a polarização e incitar o conflito e a violência, mas também pode ajudar a combater o discurso de ódio, facilitar o diálogo, a inclusão e a integração entre pessoas. Da mesma forma que as redes permitem a disseminação de notícias falsas de forma viral, elas também permitem que o esclarecimento e o restabelecimento da verdade se propaguem com igual velocidade e abrangência. No passado, desfazer uma mentira era uma tarefa muito mais árdua. Se o Twitter já existisse, a reabilitação de Alfred Dreyfus, uma das mais famosas vítimas de erro judicial, provavelmente não teria levado 12 anos.

Para além dessas questões, no entanto, há um ponto fundamental que muitas vezes passa despercebido e que está ligado à saúde do processo eleitoral e da democracia dos dias de hoje: o efeito denominado por Cass Sunstein de echo chamber (câmara de eco), que é uma consequência dos algoritmos que controlam o funcionamento das redes. Esse efeito decorre de uma característica natural dos seres humanos chamada de homofilia, isto é, a tendência a se conectar e se relacionar com pessoas que pensam e se comportam de maneira parecida: o grupo, a “tribo”.

As redes reforçam isso, pois o feed do Twitter ou do Facebook apresenta ao usuário um conteúdo que reflete suas próprias convicções. É nisso que consiste o efeito echo chamber: os usuários das redes se encontram num espaço em que sua própria voz é frequentemente a única a ser escutada. Isso resulta na polarização, que é um dos grandes problemas da atualidade. Para que uma sociedade democrática funcione bem, os cidadãos devem estar dispostos a ouvir pontos de vista diferentes, alcançando depois algum consenso. O tribalismo existente hoje em dia torna a obtenção de consensos algo cada vez mais difícil.

A proximidade das eleições de 2022 é mais um motivo para enfrentar a polarização, que não se limita ao período eleitoral, mas permanece depois dele, transformando o cotidiano das democracias numa espécie de guerra permanente. Assim como as instituições brasileiras se organizaram para combater as fake news, é necessário que elas também se esforcem para combater especialmente a polarização política gerada pelo efeito echo chamber das redes. Isso é, de fato, mais complexo, uma vez que sua solução passa por uma mudança na própria arquitetura das redes, o que está na esfera de poder das Big Techs. Mas é necessário que, no Brasil, assim como vem ocorrendo em outros países, as instituições e a sociedade como um todo demandem ações por parte dessas empresas.

Medidas como garantir a transparência sobre como os algoritmos determinam o que aparece no feed de notícias e criar meios para que os usuários tenham maior poder de decisão quanto ao conteúdo que desejam acessar podem reduzir o echo chamber.

Sunstein propôs que o Facebook adotasse um “botão da serindipidade” que, quando ativado livremente pelo usuário, permitiria que ele recebesse em seu feed informações de fora de sua bolha.  As críticas já resultaram em algumas mudanças, o que mostra uma sensibilidade das empresas em relação aos problemas das redes.

Recentemente, Nick Clegg, Vice-Presidente de Assuntos Globais do Facebook escreveu um artigo anunciando mudanças na plataforma visando maior transparência e controle para os usuários, tais como permitir que se saiba quais amigos e páginas o algoritmo do Facebook entende como mais significativos e a disponibilização de um novo feed de favoritos que funciona como uma alternativa ao feed de notícias padrão.

A tecnologia não é nossa inimiga. Mas, é claro, ela sempre trará algum tipo de problema. No caso das redes sociais, esses problemas devem ser combatidos com mudanças na arquitetura das plataformas e com a educação das pessoas para utilizá-las de forma mais consciente.

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