Pela inclusão racial nas áreas tributária, jurídica e contábil

JOTA.Info 2021-03-02

Muito embora vivamos em um país com uma população preponderantemente preta, inevitavelmente ainda se faz necessário trazer à tona a desigualdade racial e a falta de representatividade dos pretos no mercado de trabalho, sobretudo no que diz respeito a cargos de gestão e liderança nas áreas tributária, jurídica e contábil. Nasce o “Black Tax Matters”, o qual chamaremos de “BTM”. Com este texto, pretendemos apresentar o movimento e o que nos move, inaugurando uma série especial de 10 artigos, que publicaremos neste JOTA ao longo dos próximos meses.

Propósito do “movimento”

O propósito do BTM é impulsionar vidas pretas, promovendo inclusão e combatendo vieses através da educação. A missão do projeto é atuar no processo de reparação histórica em prol da equidade às pessoas pretas no Brasil, com o objetivo principal de inserir pessoas pretas nas áreas tributária, jurídica e contábil, bem como auxiliar no desenvolvimento de futuras lideranças pretas já inseridas no mercado de trabalho.

Sendo assim, cumpre ressaltar que atuação do BTM se fundamenta no fomento de conteúdos informativos, letramento racial, eventos, webinários, mentorias voluntárias e parcerias para a divulgação e recrutamento de profissionais pretos.

Racismo estrutural

Medidas de afirmação e fomento da equidade e isonomia, são os principais pilares necessários ao combate do racismo estrutural vivenciado em nosso país. Em um cenário onde a pobreza e a ausência de oportunidades estão intrinsecamente ligadas à cor da pele, faz-se necessário retornarmos ao que levou à constituição do país em que vivemos.

Retomar a história é medida crucial para analisar o conceito de racismo estrutural, haja vista que, embora estejamos no ano de 2021, em um país constituído sob o regime republicano e democrático, ainda assim vivenciamos a perpetuação das características sociais pós abolição da escravidão.

Infelizmente, ainda é comum a vinculação direta da ocupação dos pretos em trabalhos desprovidos de atributos intelectuais, vinculando-os como inferiores e atrelando-os aos serviços braçais. Tal cenário permeia exatamente a reprodução natural do conceito de escravidão.

Especificamente nas áreas tributária, contábil e jurídica ainda presenciamos brancos, de forma massiva e predominante, nas principais posições – gestão e liderança –, quer sejam nas empresas privadas, escritórios de advocacia, entidades de classe, instituições de ensino, órgãos públicos etc.

Sendo assim, mais uma reprodução específica acerca do racismo estrutural vivenciado em todos os âmbitos do nosso país.

A “onda” da diversidade

Felizmente, em consonância com as ações do BTM, muitas organizações têm tratado o tema com o senso de importância que merece, atuando no reparo estrutural e criando departamentos internos dedicados à promoção da diversidade e inclusão no ambiente corporativo. Viver a diversidade nas empresas é uma premissa que permite a criação de um ambiente mais plural, que reflete efetivamente a diversidade da sociedade brasileira.

Na mesma direção, órgãos reguladores já canalizam olhares para a diversidade e inclusão, de modo que já presenciamos a necessidade de observância às práticas e compromissos com causas sociais. Nasdaq, a bolsa de tecnologia americana, por exemplo, se manifestou recentemente que poderá excluir do seu índice quem não tiver representatividade na alta liderança. No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu uma consulta pública para seguir um caminho parecido.

Tais iniciativas ratificam a necessidade de práticas inclusivas em todos os cenários, deixando claro que organizações não inclusivas poderão ter reflexos negativos em seus negócios/resultados. Empresas que possuírem equipes mais diversas, com profissionais de formações, culturas, gêneros e raças diferentes, vão inevitavelmente oferecer melhores serviços e produtos para seus clientes.

Diante do exposto, é indiscutível a desigualdade racial que impede a representatividade dos pretos no mercado de trabalho, especificamente nas áreas tributária, jurídica e contábil, as quais foram amplamente mencionadas, e que assim configuram o racismo estrutural também tratado até aqui.

Válido ressaltar que a jornada é árdua e longa, contudo o BTM surge com o fito de minimizar tais diferenças por meio de ações afirmativas, que culminam no reparo das discrepâncias que presenciamos.

Por fim, adicionalmente às ações já materializadas, é preciso que continuamente reiteremos tais discussões, de modo a viabilizar a efetiva equidade e isonomia pleiteadas. Espera-se assim a existência de uma realidade em que não seja mais necessária a abordagem desta temática.


O episódio 50 do podcast Sem Precedentes faz uma análise da decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal nesta semana e que pode acelerar a aplicação de vacinas contra a Covid-19. Ouça: