Representante da Davati lista militares envolvidos em negociação de vacinas

JOTA.Info 2021-07-15

O representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, apresentou aos senadores da CPI da Pandemia uma lista de militares envolvidos na suposta negociação de 400 milhões de doses da vacina produzida pela AstraZeneca na última reunião antes do recesso parlamentar. 

Pelo menos cinco militares que passaram pela pasta foram citados pelo representante da Davati como envolvidos na negociação pelas vacinas da Astrazeneca: ex-diretor do departamento de Logística em Saúde Roberto Ferreira Dias (tenente reformado da Aeronáutica); o ex-diretor de Planejamento Cleverson Boechat (coronel da reserva do Exército); o ex-diretor de Programas Marcelo Bento Pires (coronel da reserva do Exército); o ex-secretário-executivo Élcio Franco (coronel da reserva do Exército); e o ex-assessor do departamento de Logística em Saúde Marcelo Blanco da Costa (tenente-coronel da reserva do Exército). 

Carvalho também revelou aos senadores o envolvimento do coronel da reserva do Exército, Hélcio Bruno de Almeida, na negociação. O militar é presidente do Instituto Força Brasil, organização de extrema-direita citada no inquérito das Fake News em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), e colega de turma de Élcio Franco. 

A cada citação de Carvalho, as patentes dos militares eram reforçadas pelos senadores. Os membros do chamado G7 da CPI deixaram claro que, a partir de agora, sempre que nomes de integrantes das Forças Armadas forem citados pelos depoentes, suas patentes serão reforçadas. Trata-se de um “acordo de cavalheiros” que busca apoiar o presidente Omar Aziz (PSD-AM), que o grupo considera ter sido atacado pela nota assinada pelos comandantes das três forças na semana passada. 

Segundo Cristiano Carvalho, havia dois caminhos de negociação dentro do Ministério da Saúde e em ambos, os militares figuravam entre os atores. “Um [caminho] era via Elcio Franco, e um [outro caminho] era via Roberto Dias. E um não sabia do outro”, disse em referência à negociação orquestrada pelo policial militar, Luiz Paulo Dominghetti e pelo reverendo Amilton Gomes de Paula da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) – que ainda será ouvido pela CPI . 

“O caminho que ele tentou via Roberto Dias, aparentemente, não prosseguiu por conta de algum pedido que foi feito lá como grupo do [Marcelo] Blanco ou o grupo do Odilon. E, paralelamente, foram falar diretamente com o secretário Elcio Franco, por intermédio do [Instituto] Força Brasil. São dois caminhos completamente diferentes”, completou. 

O representante da Davati afirmou que, no primeiro caminho, Dominghetti “se empenhou muito” na venda das vacinas juntamente com a Senah. Carvalho, que classificou o pedido de propina como “comissionamento”, disse que o valor extra sobre cada dose seria direcionado ao “grupo do tenente-coronel Blanco”. Após o jantar na noite 25 de fevereiro no qual o “pedido de comissionamento” teria sido feito, as ligações e trocas de mensagens para o representante da Davati passaram a ser iniciativa do próprio Blanco.

Também citado pelo depoente, Guilherme Filho Odilon, já identificado pelos senadores nas mensagens do celular de Dominghetti, faria parte do grupo de Blanco. Carvalho, contudo, não soube identificar a participação de Odilon no esquema.

O segundo caminho era composto por pessoas ligadas a Elcio Franco, que participaram da reunião no Ministério da Saúde no dia 12 de março para negociar a compra dos imunizantes. Além de Carvalho e do ex-número dois da Saúde, estavam presentes o reverendo Amilton, Dominghetti, os coronéis Boechat, Pires – à época todos integrantes do Ministério da Saúde – e Hélcio Bruno, também coronel da reserva. Segundo o depoente, o registro da agenda estava em nome do Instituto Força Brasil.

Carvalho entregou uma perícia feita em seu próprio celular e diversos documentos à CPI, incluindo conversas com os personagens citados em seu depoimento. O material será analisado pelos integrantes da comissão durante o recesso parlamentar. O depoimento do reverendo Amilton será realizado em agosto, ainda sem data definida.