Déficit primário vai quase triplicar, calcula IFI

JOTA.Info 2022-01-19

A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, projeta para este ano um déficit primário (receita menos despesas, sem considerar os juros) de R$ 106,2 bilhões para o governo central. O valor é quase o triplo do saldo negativo de R$ 38,2 bilhões que a entidade calcula que a União encerrou em 2021.

“Dois fatores explicam essa expectativa: o primeiro é o crescimento mais moderado da receita primária, especialmente da arrecadação administrada, em razão da perda de força da atividade econômica e de uma queda na relação de termos de troca. O segundo fator diz respeito à perspectiva de aumentos na despesa primária possibilitados pelas Emendas Constitucionais nº 113 e nº 114, que restringiram o pagamento de precatórios pela União, assim como abriram espaço no teto de gastos. O principal risco associado a esse cenário é a criação ou ampliação de novas despesas primárias permanentes, como o reajuste ao funcionalismo ora em discussão”, diz o Relatório de Acompanhamento Fiscal, divulgado na tarde dessa quarta-feira.

Apesar da alta esperada, o resultado para 2022 estaria ainda bem abaixo da meta de R$ 170,5 bilhões de déficit, mas acima dos R$ 79,4 bilhões projetados no orçamento aprovado no fim do ano passado pelo Congresso.

O resultado primário é uma das variáveis determinantes para a relação dívida/PIB, que é o principal indicador fiscal e que a IFI prevê que tenha encerrado 2021 em 82,1% e que subirá neste ano para 84,8%, refletindo, além da piora no primário, o custo maior da dívida, por conta da alta dos juros. “O principal risco associado a esse cenário é a criação ou ampliação de novas despesas primárias permanentes, como o reajuste ao funcionalismo ora em discussão”, diz o texto.

O documento também aponta que o cenário econômico para 2022 ganhou incerteza com a variante ômicron do coronavírus. “Apesar do avanço da vacinação, o aumento recente de casos de covid-19 ocasionado pela variante Ômicron gera incertezas adicionais em relação ao desempenho do PIB desse ano”, afirma a IFI, que projeta expansão de 0,5% para a economia brasileira no ano eleitoral. “A nova onda de contágio pode conter a normalização dos serviços presenciais e agravar o baixo dinamismo da indústria, através do impacto nas cadeias produtivas globais”, completa.

Outro fator mencionado como risco para piora no frágil cenário para a atividade econômica é o efeito sobre os preços de ativos financeiros (taxa de câmbio, juros) da elevação da taxa de juros nos Estados Unidos. O custo do dinheiro mais alto na principal economia do mundo tende a atrair recursos para os Estados Unidos e diminuir para países emergentes.