O metaverso além do hype

JOTA.Info 2022-04-30

Não existe um único metaverso, assim como não existe uma única blockchain. O metaverso é, sobretudo, o conceito de uma fusão sem fricção e fluida entre a realidade virtual e a realidade material. Estamos apenas no calvário tosco do início de uma nova tecnologia que já está revolucionando a sociedade.

O que temos agora é um vislumbre do que será no futuro. Os primeiros carros faziam no máximo 16 km/h, um cavalo era mais rápido. Computadores ocupavam andares inteiros. Nos anos 1970, quando a Kodak criou a câmera digital, ela pesava mais de um quilo.

Hoje, estamos longe do que será o metaverso, mas não se deixem enganar pelos gráficos pixelados, senão cairão nos mesmos erros que se repetem na história diante do surgimento de uma nova tecnologia.

Os extremos se dividem praticamente em três posições: utopia tecnológica, tudo será incrível; distopia apocalíptica, será o fim do mundo; alienação tecnológica, tudo isso é apenas moda passageira.

O metaverso se apresenta como o resultado das tecnologias que cresceram e se consolidaram na 4ª revolução industrial: a realidade virtual advinda do mundo dos gamers; o blockchain, que desponta após a crise financeira mundial dos subprimes americanos em 2008; a inteligência artificial que cresceu exponencialmente nos últimos anos com a abundância de dados produzidos pela web 2.0.

A pandemia acelerou a adoção e desenvolvimento dessas tecnologias e, com o home office, foi o catalisador para que surgissem mais consumidores interessados e familiarizados com o mundo online.

A realidade virtual com a interação através dos avatares rompe a bolha dos gamers e começa a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas. O anúncio de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, de que a empresa mudaria o nome para Meta, como modo de declarar publicamente o foco da empresa no metaverso, foi o estopim para a popularização do tema em 2021.

Apesar das muitas definições de metaverso, quase todas se resumem a descrevê-lo como uma imersão no mundo online através de um dispositivo (geralmente os óculos de realidade virtual) que fará com que você se sinta presente materialmente no mundo virtual.

Essa é uma pequena parte do conto. O metaverso é uma nova camada da realidade que se fundirá com a realidade material. Erram aqueles que consideram apenas como real o mundo físico. Concordo que a realidade virtual possui uma consistência e uma metafísica diferentes, mas ambos são realidades.

Nossos sonhos e desejos, coisa que parece etérea, quando movem a vontade humana não seriam, desde Aristóteles, chamados de causa final? Por que negar ao metaverso o estatuto de realidade?

Ele será também a fusão da realidade virtual no mundo físico. Já há empresas planejando a criação de tecnologias como uma lente de contato que transformará nossos olhos num verdadeiro computador. Com esses dispositivos mais sofisticados, estaremos conectados à internet 24 horas por dia.

Chegaremos num restaurante e com um piscar dos olhos um menu virtual se abrirá, fazemos o pedido sem dizer uma palavra e conheceremos a história dos alimentos navegando pela internet em nossos olhos.

A Grayscale, empresa mundial de consultoria, prevê que o metaverso movimentará US$ 1 trilhão por ano até 2024. A Opensea, principal corretora de vendas de NFTs do mundo, movimentou R$ 130 bilhões em 2021, 200 vezes mais do que no ano anterior. Segundo relatório recente da Citi, o metaverso alcançará um valor de mercado de US$ 13 trilhões até 2030.

No Brasil, a marca de roupas Reserva, fundada por Rony Meisler, acaba de divulgar uma coleção exclusiva de NFTs que darão àqueles que a comprarem acesso a um clube exclusivo de benefícios. Em menos de 15 horas venderam todos os NFTs.

A coleção foi desenvolvida em conjunto com a Lumx Studios, uma startup fundada por Caio Barbosa, que já lançou projetos em parceria com o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Em apenas dois meses de vida, a Lumx Studios se destaca no mercado. Recentemente, colocou à venda 3.000 unidades do NFT 55Unity, um RPG social nativo na Web3. Em 24 horas, o projeto arrecadou R$ 2,4 milhões.

A Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L) lançará em abril o maior metaverso jurídico do mundo. Nessa comunidade haverá eventos, programas e atividades diárias exclusivas para as lawtechs, advogados autônomos, escritórios e departamentos jurídicos e instituições jurídicas de ensino. Nele será possível, por exemplo, realizar audiências de conciliação virtual.

Recentemente, foi criado o AlmaDAO, uma organização descentralizada que visa a educar, desenvolver e promover a Web3, um novo modelo de internet descentralizada baseada em blockchain. Esse grupo reune mais de 20 empreendedores, entre eles Rony Meisler, Tallis Gomes, criador da Easy Taxi, e Raffa Avellar, da Adventures.

O mercado financeiro brasileiro também deseja entrar no mundo do metaverso, NFTs e Web3. De olho na tendência, Thiago Nigro, investidor e um dos maiores influenciadores financeiros do Brasil, lançou o Primoverso. Bruno Perini, sócio do grupo, criou uma coleção de NFTs.

O que observamos no Brasil é a consolidação paulatina de um novo mercado que movimentará bilhões em poucos anos. Mais do que hype, o metaverso é uma realidade, basta acompanhar para entender como a nova tecnologia já está se consolidando na sociedade.