Quanto vale o seu tempo?

JOTA.Info 2022-09-21

Enquete rápida em casa: “Caramba! Nunca pensei sobre isso”, respondeu meu marido de bate-pronto. “Ah, claro que vale bastante, mas não sei mensurar”, complementou minha amiga, pensativa. “Em qualquer medida, vale muito e passa rápido. Não dá para perder”, decretou minha filha enquanto subia as escadas ouvindo música. Detalhe: ele um baby boomer, aqueles nascidos entre o período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial até o início dos anos 60. A amiga é da geração X, que marca quem nasceu entre as décadas 60 e 70 e, minha filha, uma Alpha, uma nova classificação dada por alguns para as pessoas nascidas a partir de 2010 e que têm grandes semelhanças com a geração imediatamente anterior, a GenZ, aquela dos que não viram o mundo sem computador.  

E qual o fio condutor em comum nessas respostas? A perspectiva diante da vida que domina cada uma dessas gerações. No geral, os boomers e a geração X aprenderam que tinham toda uma vida pela frente para fazer, acontecer, acumular, curtir e buscavam estabilidade. Já os Y, os Z e os Alpha não sabem quanto tempo terão pela frente. A única certeza é que ele se esgotará. E, por isso mesmo, não têm tempo a perder.  

O primeiro grupo olha a vida. O segundo, a morte. E esse pequeno detalhe é um dos fatores importantes de mudança de comportamento social ao longo dos tempos. E olha que alertas não faltaram. No Império Romano, Sêneca, filósofo, advogado e escritor, já chamava atenção sobre a forma como as pessoas dispunham do tempo delas e o doavam como se nada fosse.   

Mas, para nós X ou boomers, havia toda uma vida pela frente para virar o jogo e recuperar alguma coisa que fosse perdida. E, com isso, aturávamos muita coisa, na certeza de que uma hora o jogo mudaria, desde que nossa estabilidade estivesse garantida. Sêneca argumentava que o tempo de vida era a única real propriedade do ser humano, que ele era finito e que deveria ser valorizado e bem gerido. O mantra de vida dos “Z” e dos “Alpha”, que não querem desperdiçar o tempo com coisas nas quais não veem sentido: da fila no banco ao chefe que não agrega.  

E porque estamos falando sobre isso, aqui? Bom, escrevi na coluna de estreia: “A revolução que vem das bases e pressiona por mais práticas e menos discurso, que a ideia deste espaço é, sobretudo, trazer provocações que nos ajudem a refletir para sair da falação e passar à ação quando o tema for ESG. E, com isso, acredito ser de igual importância discutir conceitos que são o pano de fundo para essas três letrinhas e que precisamos desenvolver para conseguir, de fato, traduzir palavras em ações de forma original, autênticas e que possam ser vivenciadas.   

E uma coisa que, a cada ano, se cristaliza como fundamental na hora em que tomamos nossas decisões (sejam elas de compras, ou escolhas pessoais, como um emprego) são nossos valores. Eles podem transitar entre as diversas áreas (humana/moral ou econômica/financeira, só para citar alguns tipos), mas são, no final, um conjunto de normas que deveriam facilitar nossa convivência em sociedade. E como ESG é sobre gente, a temática é, também, sobre os valores que pautam “essa gente”.  

O problema é que, como esses valores (aqui traduzidos como as normas que valeram para cada época em específico) refletiram parte do desenvolvimento humano das gerações e a disrupção tecnológica abriu um buraco que engoliu qualquer possibilidade de semelhança entre os blocos de gerações que discutimos aqui, conciliar toda essa turma que hoje habita no mesmo mercado de trabalho para produzir bens e serviços e atender às necessidades dos clientes/sociedade virou um problema. Um problema real, porém, nem sempre devidamente entendido pelo mundo corporativo.  

 É, aí, caro leitor, que entra a sua parte na nossa parceria aqui neste espaço: refletir e agir. Eu, particularmente acredito que a cultura corporativa é o ponto onde os conceitos/valores de gerações diferentes devem se encontrar e serem ressignificados em nome do ecossistema em que estão todos inseridos. E quem deve coordenar essa jornada é a liderança. Seja por consciência própria ou pressão das bases.  

 O importante é que o start seja dado de alguma forma, em nome de algo que une todos nesse ecossistema: a marca. E, a partir das experiências que se combinaram ali, todos, juntos, vão criar um novo jeito de ser e de fazer as coisas. É pela marca e para a marca que as gerações devem se encontrar, colocar os valores na mesa, enfatizar os pontos comuns, ressignificar os que precisam e sair do outro lado com a visão de que o que importa é o cliente. 

 Por isso, li com muito carinho uma reportagem publicada na Folha de S. Paulo sobre o revival dos anos 80, com marcas relançando produtos que marcaram gerações, assim como filmes e músicas. O movimento é apontado como consequência da pandemia da Covid-19, quando avós e pais passaram mais tempo juntos e puderam dar mais atenção a filhos, netos e sobrinhos de gerações anteriores. A tese é que eles buscaram na memória afetiva que carregam esses anos todos, brinquedos e objetos que representassem as boas experiências da infância.  

 Quem sabe, se isso não ajudará a melhorar a comunicação e a aproximação entre gerações? A sacada de marketing é boa, agora, é esperar para ver a reação.  

 Bom, eu paro por aqui. Mas espero, de coração, que você continue aí desse lado, pensando, refletindo e agindo. A gente tem novo encontro daqui a 15 dias.