Tebet destaca ‘quarteto’ da economia, mas avisa que será contraponto
JOTA.Info 2023-01-05
A cerimônia de posse da ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), foi a única com a presença de toda a equipe econômica, o “quarteto a favor do Brasil”, em suas palavras. Mesmo com um discurso elogioso e de cooperação para com seus pares (Fernando Haddad, a quem classificou de ministro mais importante da Esplanada, Geraldo Alckmin e Esther Dweck), Tebet deixou claro que terá papel de contraponto à visão econômica dominante hoje no governo.
Ela textualmente disse que tem alguma “divergência” com a pauta econômica do governo e que apontou isso para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quando foi convidada. Segundo ela, o presidente ignorou essa ponderação, como se dissesse que é isso mesmo que ele quer, porque é um democrata. De fato, Lula gosta exatamente de operar na divergência.
Tebet ressaltou a importância da responsabilidade fiscal, falou da necessidade de reduzir a inflação e a dívida pública, mas também repetiu o mantra presidencial de incluir o pobre no orçamento. Em um alerta para os impacientes, lembrou que o governo tem quatro anos para fazer seu programa.
A posse da ministra não foi tão disputada quanto as de Alckmin e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, mas contou com figuras de peso do MDB, o seu partido.
Tebet fez um discurso com fortes referências sociais, em linha com o pregado por Lula, mas também deu bastante ênfase no tema da diversidade. Esse, aliás, foi o motivo para ela não ter anunciado sua equipe no discurso, embora essa possibilidade estivesse em seu radar — faltavam algumas respostas a convite e por ora ela disse ter 70% da equipe pronta.
A ministra também anunciou a criação de uma secretaria de avaliação e revisão de políticas públicas. E em um gesto para os órgãos de controle, prometeu uma diretoria a ser ocupada por um servidor do Tribunal de Contas da União (TCU), órgão que jogou duro na gestão petista e que foi importante ator no impeachment de Dilma Rousseff.
A ‘dobradinha’ do Planejamento com o TCU mira o reequilíbrio de forças na discussão de um Congresso que toma posse ainda sob efeito do orçamento secreto. Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha colocado ponto final no mecanismo, ele fez viciar a lógica política dos parlamentares no envio de recursos aos redutos eleitorais, à margem de critérios razoáveis e descompromissado dos interesses do governo federal.
A ministra se alinhou a Haddad e Alckmin na prioridade a ser dada para a reforma tributária, que foi ignorada nos discursos de Lula. E elogiou Bernard Appy, encarregado por Haddad para liderar esse processo.
Não faltaram ataques ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Tebet mostrou claramente que será uma ministra política, mas que tentará colocar sua visão liberal no governo. A ver se a fórmula dará certo. Como ela disse, não se luta só para vencer, mas para construir e defender ideias.