A disputa pelo protagonismo na direita para 2026

JOTA.Info 2023-08-08

Na última semana, Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais e cotado a disputar a Presidência da República em 2026, deu uma declaração bastante polêmica a respeito do arranjo federativo do país. Defendeu o aumento do protagonismo dos estados do Sul e Sudeste em clara indisposição ao que chamou de excesso de força política dos estados do Norte e Nordeste. Pede maior presença do consórcio firmado entre os estados das regiões defendidas, o Cosud, nas discussões que envolvem disputas entre os estados do país. Quer que a importância dos estados dessa região seja compatível com o seu tamanho populacional e relevância econômica. Com isso, ganhou manchetes Brasil afora.

Apesar de ter razão quando diz que há pobreza também nos estados do Sul e Sudeste (ainda que o mineiro adote um tom que não busca proteger essas pessoas e, sim, reforçar uma divisão que já se manifestou nas últimas três eleições nacionais), o momento da declaração não pode passar despercebido. Além disso, sua fala polêmica sobre tal consórcio não foi a única declaração dada por ele e ambas dão o tom de suas preocupações atuais.

Zema sabe que está vaga a posição para um candidato à Presidência que ocupe o campo da direita em 2026. Sabe também que vários de seus concorrentes são atualmente governadores e, dentre estes, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é um nome de destaque. Ele ocupa uma posição que o coloca com reais condições de ser escolhido para disputar o Palácio do Planalto nas próximas eleições. As disputas entre ambos, ao menos, devem ser intensas pelo apoio de partidos deste espectro político. E havia uma oportunidade aberta.

Nas últimas semanas, a atuação da polícia paulista ganhou as manchetes por seu papel em uma chacina no litoral, criando um momento delicado para Tarcísio. A truculência policial lançou holofotes sobre o ocorrido. Policiais precisarão ser investigados e se acumulavam as críticas a mais um episódio infeliz envolvendo a Política Militar do estado. O governador ainda terá de responder pelo ocorrido.

E Zema sabe disso. Sabe também que não tem a reeleição ao cargo estadual à sua disposição. Por esta razão, tem mais urgência e precisa fazer os movimentos primeiro. A oposição bairrista contra os estados do Norte e Nordeste foi recorrente nas campanhas eleitorais a partir da clara cisão eleitoral em 2014. O momento delicado para Tarcísio foi aproveitado pelo governador mineiro para colocar-se como defensor de um eleitor que apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro nas últimas duas eleições, tendo claramente a oposição contra o Nordeste como elemento que surge na própria campanha. Percebendo a chance, Zema aproveitou-se e levantou a sua bandeira como defensor dos interesses de todos os cidadãos do Sul e Sudeste do país.

Estes aspectos não parecem estar fora do alcance de Zema. Pelo contrário, a declaração do governador mineiro sobre o referido consórcio foi acompanhada de outra fala em que defende a aglutinação da direita em torno de um único nome. Caso divida-se em “dois ou três nomes”, dará “de mão beijada a reeleição ao adversário”. Ou seja, ao mesmo tempo em que mostra de que lado está e até onde enxerga os interesses locais, buscou colocar os termos do debate.

O objetivo imediato parece ter sido alcançado e as suas declarações repercutiram. Vários políticos contestaram-na, enquanto outros, como Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul e também cotado a ser candidato a presidente, a defenderam. Os destaques obtidos por esse posicionamento durarão ainda uns dias, mas já dão mostras que a intenção do mineiro não é a de ser mero espectador no processo que encaminhará a decisão pelos candidatos de 2026. Ele está na disputa e parece querer mesmo vencê-la.