O que podemos esperar das eleições de 2024?

JOTA.Info 2023-10-10

Falta aproximadamente um ano para as eleições municipais de 2024. Depois de uma disputa à Presidência extremamente apertada no ano passado, as atenções já se voltam para as movimentações em torno do pleito que se avizinha. Apesar de distante, algumas particularidades já se sobressaem neste momento e criam alguns contornos sobre como devem ser as próximas eleições.

Inicialmente, é preciso enfatizar as características básicas de nossas eleições municipais. O Brasil tem mais de 5.500 municípios, em que a média populacional está em torno de 25 mil pessoas por cidade. As capitais estão no extremo desta distribuição, com número muito maior de eleitores, algumas na casa dos milhões. Essa desigualdade populacional se reflete em uma dinâmica eleitoral também distinta. Nas capitais e nas grandes cidades do país, os partidos estão mais bem organizados; os diretórios estaduais estão mais atuantes. Já nas pequenas cidades, em muitas os partidos não possuem diretórios municipais organizados, variando as dinâmicas em cada um dos estados da federação e criando um vácuo entre a realidade da cidade e a direção partidária central.

Esta faceta das disputas locais cria lógicas diferentes nas campanhas para prefeito: nas capitais e cidades maiores, há maior importância das estratégias gerais dos partidos, enquanto nas demais cidades as questões locais prevalecem. Por estas razões, dizemos que há nacionalização das campanhas no primeiro grupo de municípios, o que acontece com muito menos prevalência nas cidades menores. Um exemplo claro dessa diferença está no fato de que mesmo quando PT e PSDB dividiam a relevância nas disputas presidenciais, havia diversas cidades em que ambos formavam coalizões nos pleitos locais. 

Há também uma outra dimensão importante a ser considerada quando falamos das disputas municipais. O papel dos governadores é fundamental na formação das alianças de cada partido em seus estados. A sua capacidade de interferir na estratégia de sua sigla é bastante acentuada historicamente e também não há razões para supor que isto será diferente em 2024. 

Assim, as próximas eleições acontecerão diante deste cenário. Tanto a lógica distinta do debate da campanha considerando o porte populacional das cidades quanto a ação dos governadores continuarão a operar nestas eleições. O que há de particular está no impacto que as imagens de Lula e Bolsonaro podem ter. Estas interagirão com o cenário apontado.

A interação deve, então, ser mais forte e mais clara nas cidades maiores do país. É esperado que a divisão Lula-Bolsonaro tenha maior importância nas localidades em que a disputa seja mais nacionalizada.

Já a influência dos governadores deve reforçar essa divisão com uma outra dimensão: políticos que buscam se colocar como uma terceira via tentarão apresentar seus candidatos se afastando desta dicotomia. É o caso de Eduardo Leite (PSDB) no Rio Grande do Sul e Raquel Lyra (PSDB) em Pernambuco, por exemplo. Governadores que buscaram se colocar como alternativa à polarização tão mencionada podem reforçar seu argumento apoiando candidaturas que se afastem daqueles antagonistas. 

Claro, vale a observação de que muita coisa pode mudar ainda. Os processos legais que envolvem Bolsonaro e a avaliação popular de Lula determinarão a centralidade da polarização e os termos em que a nacionalização da disputa ocorrerá. Mas estas forças todas me parecem centrais e influenciarão os resultados das eleições do ano que vem.