Por um Sistema de Publicação Acadêmica “Justo e Acessível”

Projetos Open Access da Universidade do Minho 2024-06-05

 

O portal University World News publicou notícia tendo como mote o primeiro de um conjunto de webinars promovidos pela “European University Association” (EUA), intitulado “Building a Just Scholarly Publishing Ecosystem”. A sessão decorreu no último dia 22 de maio e contou com a intervenção de vários especialistas na área, inclusivamente de Eloy Rodrigues, diretor dos Serviço de Documentação e Bibliotecas da Universidade do Minho. Os outros parceiros do debate foram Otto Doblhoff-Dier, Vice-Reitor de Pesquisa e Relações Internacionais na Universidade de Medicina Veterinária de Viena; Vinciane Gaillard, Diretora Adjunta de Pesquisa e Inovação da EUA;  Johan Rooryck, Diretor Executivo da cOAlition S e Anna Lundén, Diretora do Departamento de Colaboração na Biblioteca Nacional da Suécia.

Com a discussão sobre o acesso aberto às publicações acadêmicas como uma tendência crescente, Eloy Rodrigues destacou que tanto os produtores quanto os usuários de publicações acadêmicas devem ter acesso irrestrito a esses materiais, sem enfrentar barreiras financeiras, institucionais, linguísticas ou geográficas, privilegiando o Modelo “Diamond Open Access”, solução onde os resultados de pesquisa são disponibilizados abertamente sem custos para autores ou leitores e todos os elementos de conteúdo pertencem às comunidades acadêmicas. A particularidade deste modelo é focar-se na qualidade do conteúdo, ao invés do prestígio do editor ou sítio de publicação, reconhecendo e recompensando todas as contribuições ao processo de publicação, incluindo pré-prints, livros, entre outros. Posição que se aproxima da de Johan Rooryck, que criticou a ‘obsessão’ com a publicação final em revistas de ‘alto prestígio’, que muitas vezes acabam por atrasar o acesso aos resultados das investigações.

Outro ponto frisado foi a imperiosa necessidade de se adotar um sistema de publicação acadêmica sustentável e equitativo, baseado em infraestruturas e serviços sem fins lucrativos, ao invés de taxas de processamento de artigos (APCs), frequentemente utilizadas por periódicos de acesso aberto em substituição às taxas de assinatura pagas por bibliotecas e leitores, criando barreiras financeiras significativas. A opinião é partilhada por todos os interlocutores, embora Doblhoff-Dier mostre-se mais cético na materialização deste objetivo.

São também precisas maior eficiência e inovação numa disseminação mais rápida de resultados, acompanhadas de transparência e eficiência no controle de qualidade, certificação e revisão por pares, tendo sido sugeridos novos modelos de trabalho, como o “publish-review-curate”, onde autores publicam pré-prints abertamente em plataformas dedicadas, permitindo uma revisão e curadoria mais expeditas e transparentes.

A cultura ‘asfixiante’ de ‘publicar ou perecer’ é também alvo de críticas generalizado: Vinciane Gaillard sublinha mesmo ser necessário priorizar a qualidade intrínseca dos resultados em prol do volume de publicações . Para além disso, Eloy Rodrigues defende o reconhecimento e a valorização de uma tipologia mais diversificada de contribuições, como o trabalho de revisão, o serviço editorial, a curadoria de dados, trabalhos que frequentemente são negligenciados nas avaliações anuais.

Igualmente criticados são os sistemas de rankings universitários que se baseiam meramente nas métricas de publicações.  “As universidades deveriam abandonar esses rankings”, defende Eloy Rodrigues, em favor de sistemas de avaliação mais justos e transparentes, movimento que já começa a ter adesão recente de universidades europeias, como a de Utrecht ou de Zurique, que se retiraram do “Times Higher Education World Rankings”.

Por sua vez, Anna Lundén quis vincar na sua intervenção o papel determinante das bibliotecas na promoção do acesso aberto, aconselhando autores sobre os seus direitos e a auxiliar negociações com os editores.

Como conclusão, apesar da transição para um sistema de publicação acadêmica mais justo e acessível ser algo complexo e desafiador, é, contudo, essencial para o avanço do conhecimento. Com a liderança das comunidades de pesquisa e o apoio de infraestruturas sem fins lucrativos, os especialistas ouvidos acreditam na construção de um sistema que valorize a qualidade do conteúdo e promova a disseminação ampla e equitativa do conhecimento.

A notícia do portal pode ser acedida em: https://www.universityworldnews.com/post.php?story=20240531124650229

O webinar está disponível na rede no topo desta publicação.