Ciência Aberta em tempo de catástrofes

Projetos Open Access da Universidade do Minho 2025-01-27

UNESCO-CODATA

Numa era de emergência climática, de desastres naturais e sanitários, guerras e conflitos que se multiplicam ao redor do mundo, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a CODATA (“Committee on Data of the International Science Council” – organização que reúne mais de 250 associações científicas internacionais, incluindo diversas federações e organizações académicas) criaram uma parceria na qual apontam a Ciência Aberta como uma das melhores formas de prevenção, resiliência, promoção da informação e recuperação desses incidentes, muitas vezes imprevistos.

Como realizar a prevenção? Segundo as recomendações da UNESCO sobre Ciência Aberta de 2021, promovendo políticas eficazes para a recolha, análise e partilha de dados abertos relativos a estas crises. Como parte deste esforço, nasceu o projeto “Data Policies for Times of Crisis Facilitated by Open Science” (DPTC).

Desta forma, no passado dia 16 de janeiro de 2025, no webinar “Shaping Resilient Futures: Open Science and Data Policies for Crisis Preparedness, Response, and Recovery”, foram apresentadas algumas conclusões da consulta global da UNESCO acerca de políticas de dados para crises, além da versão “draft” de uma série de entregáveis do projeto mencionado, tais como um “kit” documental que inclui: um folheto informativo que visa o desenvolvimento de políticas de dados em tempos de crise; um documento de diretrizes para a criação dessas políticas e uma lista de verificação facilitadora do processo.

O folheto informativo pretende fornecer diretrizes básicas para o desenvolvimento de políticas de dados durante crises, em consonância com os princípios das políticas de Ciência Aberta, como a integridade de dados, a transparência, a ética, a inclusão, entre outros.

O documento de diretrizes preconiza uma política de gestão de dados bem estruturada e concebida tendo em vista dar não só uma resposta imediata a alguma ameaça, mas de cariz reparador e, especialmente, preventiva, que possibilite uma reposta eficaz diante de situações críticas, e que identifique também alguns fatores que podem constituir-se como riscos potenciais, como, por exemplo, a interoperabilidade de sistemas, a segurança e a privacidade dos dados ou a propriedade dos mesmos.

A lista de verificação funciona como uma espécie de “wizard”, guiando: no estabelecimento de objetivos claros; na definição de responsabilidades e papéis a serem desempenhados pelos atores em situações de crise; na disponibilidade e no acesso aos recursos adequados em caso de catástrofes; na garantia da manutenção dos padrões éticos e de defesa dos direitos humanos; no robustecimento da governação através de protocolos baseados na Ciência Aberta; no estímulo à recolha e à acessibilidade da informação; no fortalecimento das capacidades e infraestruturas que possibilitem o acesso aberto; na interoperabilidade interdisciplinar, multissetorial e internacional; no fomento da comunicação e do engajamento público com a ciência; no estabelecimento de mecanismos para documentar, monitorar e avaliar os dados e a situação; na preparação prévia de planos de resiliência visando horizontes de longo prazo.

Estas ferramentas vão integrar o “UNESCO Open Science Toolkit”, cujo propósito é facilitar a implementação das recomendações acerca de Ciência Aberta dessa agência supranacional e prover os “stakeholders”, como políticos e outros decisores, de dados e materiais que lhes permitam adotar estratégias robustas para a gestão das crises.

Foram ainda apresentados uma série de casos de estudo como: a crise pandémica da COVID-19 e a International Health Regulation (IHR), por Virginia Murray; a emergência durante um dos últimos terramotos na Turquia, por Burcak Basbug Erkan; enchentes decorridas na Austrália, por Jacqueline Stephens; e a dificuldade do rastreamento de crianças deslocadas em Kharkiv, por Ingvil Constance. Os diapositivos da sessão podem ser consultados aqui.

 

Alexandre Rocha

Revisão de Ricardo Saraiva