Acesso Aberto “lucrativo”?

Projetos Open Access da Universidade do Minho 2025-05-23

Springer Nature reporta um aumento de 7% nos seus lucros em 2024

Uma das maiores companhias no ramo da publicação científica anunciou em março mais um ano de aumento nos seus lucros anuais, facto que tem se repetido ao longo dos últimos anos. Atualmente as suas receitas alcançam cifras perto dos 2 mil milhões de euros. A empresa atribui este sucesso ao crescimento do “acesso aberto” no seu “portfolio” de negócios, naquele que foi o primeiro anúncio depois de uma oferta pública de ações nas bolsas de valores no último ano.

O portal “Research Professional News” fez eco do anúncio da empresa em notícia que pode ser consultada aqui.

Conforme informado, fontes da Springer sublinham mesmo que o segmento da investigação continuará a ser o principal “motor” da empresa: isto “especialmente depois da excelente performance das publicações de acesso aberto”, concluem. Recorde-se que em 2024 metade das suas publicações converteram-se ao acesso aberto, que é referido como estratégico, pois a Springer quer a “liderança na transição para o acesso aberto, proporcionando maior valor acrescentado à comunidade académica, impulsionada pela acessibilidade e o impacto causados pelo acesso aberto na investigação”. Frank Vrancken Peeters, executivo da empresa, refere que há setores que serão privilegiados, como tecnologia, educação e saúde.

Boas notícias para o acesso aberto? Não necessariamente…

Apesar de aparentemente estar a se formar uma “era de ouro” para as políticas de acesso aberto, estas “boas novas” podem não significar exatamente isso no seu sentido literal. “Isto não é verdade”, alerta Eloy Rodrigues, Diretor dos Serviços de Documentação e Bibliotecas da Universidade do Minho: “As enormes cifras reportadas são criadas através da cobrança dos APC’s [article processing charge]. Estas não refletem o espírito do Acesso Aberto, que se quer verdadeiramente livre e aberto, como é denominado o Acesso Aberto Diamante” [onde a publicação dos artigos em acesso aberto não implica o pagamento de qualquer taxa, quer seja pelo autor, quando torna público o seu trabalho, quer pelos leitores, no momento da consulta deste material].

O especialista considera que a simples substituição de um paradigma onde se paga para consultar, por outro, onde se paga para publicar, não é uma verdadeira solução: “os problemas que hoje enfrentamos resultam da combinação de um ambiente académico hipercompetitivo e sistemas de avaliação que pressionam para que se publique cada vez mais e em certas revistas de impacto, com o domínio do sistema de publicação por um oligopólio de cinco grandes grupos editoriais, a que se juntaram recentemente empresas como a MDPI ou a Frontiers. Esta combinação tem proporcionado um negócio altamente lucrativo para os fornecedores de serviços de publicação que dominam o mercado. Adicionalmente, para além de exigir cada vez mais recursos financeiros das instituições que realizam ou financiam investigação, coloca em risco valores académicos essenciais como a integridade e confiança, a equidade e a acessibilidade, a autonomia e soberania académica”.

A seu ver, a solução passa por apostar no reforço das infraestruturas e serviços não comerciais, geridos pelas instituições e comunidades, o já referido Acesso Aberto Diamante, e pela adoção de modelos inovadores na comunicação científica,  separando as funções de publicação, revisão e curadoria e valorizando todos os tipos de contributos e resultados, para além dos artigos.