Ciência Cidadã ajuda a “varrer o espaço”

Projetos Open Access da Universidade do Minho 2025-07-23

Telescopio

 

Numa noite comum em Monterrey, no México, o astrônomo amador Iván Venzor jantava com a sua família ao mesmo tempo que o seu telescópio registou um evento particularmente raro: um planeta de grandes dimensões a passar diante de uma estrela distante. O fenômeno, que não é percetível a olho nu, foi importante, a contribuir decisivamente com dados valiosos compartilhados com a comunidade académica.

Estas descobertas tornam-se cada vez mais corriqueiras graças a uma rede global de mais de 15.000 telescópios “inteligentes”, pois conectam-se por Wi-Fi e são operados por cidadãos comuns. Fabricados pela empresa francesa Unistellar, esses telescópios permitem que os entusiastas pelo espaço participem de investigações científicas a observar asteroides, cometas, exoplanetas e até missões espaciais.

“É o projeto de ciência cidadã mais incrível que já vi”, afirma Jon Vandegriff, cientista de dados em física espacial no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins.

Esta rede constituída já ajudou a refinar órbitas de asteroides, estudar exoplanetas e acompanhar eventos espaciais importantes — como a missão da NASA em 2022, que colidiu intencionalmente com um asteroide para testar técnicas de desvio.

Apesar do potencial transformador, os telescópios da Unistellar chegam a custar mais de 4 mil dólares, o que, em circunstâncias ordinárias, os tornariam totalmente inacessíveis para a quase totalidade dos membros da comunidade de Iván. Para ampliar a participação, a empresa e organizações como a “Astronomers Without Borders” têm promovido a doação de equipamentos para universidades e clubes de astronomia ao redor de todo o mundo.

No Brasil, o astrofísico Marcelo Souza, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, foi um dos que recebeu um dos telescópios gratuitos para o seu clube de astronomia. “Tudo mudou quando recebemos o equipamento”, explica o investigador. O instrumento tornou-se essencial para o ensino, investigação e atividades de divulgação científica

Na Armênia, os irmãos Vachik e Mher Khachatryan usam o telescópio que também receberam para promover eventos educativos que já alcançaram mais de 2 mil crianças, despertando o interesse pela ciência e pelo universo.

A rede de telescópios é um claro exemplo de como pode ser feita em colaboração com o cidadão comum e com a sociedade, onde descobertas importantes podem começar num qualquer jardim de casa ou na varanda de um apartamento. Com mais pessoas envolvidas e mais dados sendo coletados, o céu nunca esteve tão acessível — nem tão cheio de possibilidades.