Constelação familiar: técnica psicoterapêutica é utilizada em conciliações na área de Família

Técnica alemã que investiga as relações interpessoais do sistema familiar, mostrando as conexões entre as gerações, a abordagem conhecida como "constelação familiar" é utilizada desde 2015 pela juíza Virgínia de Fátima Marques Bezerra, da 6ª Vara da Família da comarca de Natal, com a intenção de esclarecer para as partes o que há por trás do conflito que gerou o processo judicial, os conflitos em geral de origem familiar. Com a técnica, o índice de acordos nas audiências de conciliação subiu de 30% para 70%, segundo a magistrada.

A Constelação Familiar é utilizada no Judiciário em audiências conciliatórias em processos judiciais relacionados a assuntos como disputa de guarda de crianças, alienação parental, inventários e pensão alimentícia. Dessa forma, pode ser oferecida às partes uma solução alternativa ao litígio. A medida está em conformidade com a Resolução CNJ nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça que estimula praticas que proporcionam tratamento adequado dos conflitos de interesse do Poder Judiciário. Atualmente é utilizada em 16 estados e no Distrito Federal, segundo o CNJ.

A técnica psicoterapêutica foi criada na década de 1970 pelo terapeuta alemão Bert Hellinger, buscando o diagnóstico e solução de problemas e conflitos. Ela baseia-se em um conjunto de “leis” naturais que regem o equilíbrio dos sistemas chamadas de “Ordens do Amor”. O objetivo é descobrir de que forma a pessoa continua enredada dentro do sistema familiar e que papéis assume inconscientemente em prol de descobrir a origem do conflito e as emoções ocultas pelas dificuldades vivenciadas.

Segundo a juíza Virgínia Marques, as emoções de quem experimenta a aplicação das técnicas de Hellinger são de surpresa, por o individuo não pensa que possui essas emoções ocultas. Por achar que o litígio é realmente o problema a ser resolvido, não sabe que essas emoções influenciam na dificuldade da solução do conflito. Assim, o reconhecimento dos motivos por trás do litígio é um dos objetivos do Judiciário ao utilizar esta técnica de escuta terapêutica.

Dramatização

A magistrada explica que cada uma das partes integrantes da Constelação Familiar realiza uma dramatização utilizando bonecos de playmobil. A partir da disposição em que colocam os bonecos os técnicos podem identificar através de um simbologia e de um padrão pré-existente o que significa cada movimento. Dessa forma, surgem as questões ocultas, coisas que já aconteceram na família, conflitos passados, dificuldades, traumas.

"A explicação da constelação é uma ajuda energética para as partes. É trabalhado o campo da energia, o que elas não querem expor, transferem para o boneco. Nessa dinâmica, a posição em que colocam cada boneco tem um significado dentro da Psicologia. A pessoa vai se lembrando de traumas passados, de conflitos mal resolvidos", relata a juíza Virgínia Marques.

Motivos

A titular da 6ª Vara da Família de Natal aponta que os motivos que geram os conflitos familiares podem ser muitos, entre eles o fato dos filhos serem mais protagonistas na família nos dias de hoje, e nessa relação de igual para igual haver a quebra de hierarquia.

Outro fator é a quebra da lei do pertencimento, onde um membro se sente excluído da família, passando a se sentir diminuído, inferior. O importante a ser feito nessas situações é analisar criticamente o seu comportamento e corrigi-lo.

"A história que você viveu é o que você aprendeu que é normal para você, portanto você não faz um juízo critico. A maioria das pessoas vive isso [determinada situação de conflito], mas quer que com a sua futura família seja diferente. Uma pessoa que não faz esse juízo crítico vai repetir esse comportamento, esse paradigma. Por isso a importância da escuta terapêutica, as pessoas terem uma relação mais saudável. Você vai agir diferente e isso vai ter uma repercussão no seu entorno, não fará apenas um papel de vitimizado. Isso se dá através da consciência do que aconteceu com você." explica Virgínia Marques.