O afeto que transcende o biológico e constrói laços profundos

Notícias – TJCE 2025-05-23

 

 

 

“Dar à luz é se doar, é caminhar lado a lado, é a missão de cuidar, de amar e ser amado, é ser grato por um dia também ter sido cuidado. É conhecer o amor maior que se pode amar, é a escola da vida que insiste em ensinar que pra dar à luz um filho não é preciso gerar. É entender que o sangue nesse caso é indiferente. Duvido o DNA dizer o que a gente sente. É gerar alguém na alma e não biologicamente.”

A delicadeza dos versos do poeta cearense, Bráulio Bessa, destaca a adoção como um dos atos de amor mais genuínos da vida. Suas palavras desconstroem a ideia de que a família precisa ser definida por laços biológicos, reforçando que o verdadeiro pertencimento nasce da escolha, do carinho e da entrega diária.

 

Foto com três mulhares abraçadas a uma criançaFelizes, as mamães Luciene e Márcia festejam o bebê Anthony: “Um sonho realizado” 

 

Na manhã dessa quinta-feira (22/05), algumas famílias cearenses celebraram um novo capítulo de suas histórias. Durante uma solenidade, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), por meio da 3ª Vara da Infância e Juventude de Fortaleza, entregou cerca de 40 Mandados de Inscrição de Sentença de Adoção, garantindo aos adotantes o direito de registrar legalmente seus filhos e filhas no cartório civil.

Para os papais Francisco Gustavo Lopes Moura e Samuel Ramos do Amaral, a chegada da pequena Antonella Lopes Ramos, de dois anos, e a oficialização desse vínculo consolidam o desejo de eternizar o afeto cultivado entre eles. “É uma forma de concretizar um grande sonho que era perpetuar a família, perpetuar o elo que existe de amor entre nós dois, de fazer com que no futuro, quando a gente não mais existir, tenhamos uma sementinha nossa no mundo”, afirma Gustavo com um sorriso discreto, mas com o coração transbordando de alegria.

 

 

As mamães Luciene da Cunha Ferreira e Márcia Souza dos Santos também celebraram a oportunidade de formalizar legalmente o vínculo com o bebê Anthony Muryel, de apenas um ano de idade. Em perfeita sincronia, elas relatam que esse momento é também “um sonho realizado, pois a gente lutou bastante para chegar até aqui. Nós temos meninas e sonhávamos com um menino. Agora, graças a Deus, chegou a hora”.

 

 

Para além de um documento, os papéis entregues no evento representam a garantia dos direitos que fortalecem uma nova estrutura familiar. Kesley Almeida de Oliveira Pontes recebeu o diagnóstico de infertilidade, mas não hesitou em construir sua família como desejava. O tempo, denominado por Caetano Veloso como um compositor de destinos, reservou a hora certa para presentear ela e seu companheiro Darlan Pinto Pontes com o Paulo Vitor Almeida Pontes, de dois anos.

 

Foto de um homem e uma mulher com o filho “É muito gratificante poder ter esta bênção”, celebra o pai Darlan ao abraçar o filho Paulo Vitor, 2 anos 

 

“Houve um momento de preparação. A gente pensou se estávamos bem emocionalmente para que isso pudesse acontecer, porque adoção é uma escolha. A partir do momento em que você escolhe, não é para voltar atrás, porque envolve o sentimento da criança. E foi assim, entramos na fila e fomos chamados para conhecer o Paulo Vitor, e ele foi tão feito para a gente que ele é a minha cara, né? É a cara da mamãe, né?”, brinca Kesley.

O novo papai Darlan conta que “é muito gratificante poder ter esta bênção. É um momento muito feliz, porque há muito tempo a gente já queria ter um filho e, no momento certo, Deus vai nos abençoar com um filho biológico, mas o nosso filho adotivo ele já é mais que um biológico para a gente, ele já é parte da família antes mesmo de chegar até nós. É o nosso raio de sol!”.

 

 

 

O Judiciário cearense tem concentrado esforços para ampliar, com a maior efetividade possível, o acesso a direitos fundamentais, especialmente para aqueles em situação de maior vulnerabilidade social. Entre as prioridades, está o compromisso de viabilizar um processo de adoção cada vez mais seguro e ágil, promovendo a proteção e o bem-estar das crianças, adolescentes e das famílias envolvidas.

De acordo com a Coordenadora de Processos Administrativos e Judiciais de Infância e Juventude de Fortaleza, Nathália de Lourdes Coêlho Cruz, a entrega dos mandados de adoção “representa o encerramento formal de um processo legal, mas, sobretudo, o início oficial de uma nova história. Para a Justiça, é muito gratificante acompanhar esse desfecho, pois ele materializa o direito à convivência familiar e reafirma nosso compromisso com a garantia de direitos de crianças e adolescentes”.

 

 

Se existiam dúvidas quanto à possibilidade do amor construído no processo de adoção quebrar barreiras e transbordar, a família de Lucineudo Irineu e Paulo Garcia certifica o contrário. Juntos, os pais cuidam de quatro filhos adotivos. Desta vez, eles comemoraram a entrega do mandado da filha caçula, Marielle Vitória Machado Garcia, de dois anos, cujo nome homenageia uma figura que simboliza força e a luta pelos direitos daqueles que mais necessitam.

Os irmãos de Marielle são: Messias Mateus Brasil de Sousa Machado, adotado aos sete anos e hoje com 17; Jonas Machado Garcia, que chegou à família aos 13 anos e atualmente também tem 17; e Jhon Lenon Machado Garcia, adotado aos 16 anos e agora com 18 anos completos.

 

Foto com os dois pais e os cinco filhos adotivos: três rapazes e uma meninaOs pais Lucineudo e Paulo, que já tinham adotado três filhos, agora se orgulham com a chegada da caçula Marielle

 

Em discurso que encerrou as entregas, Lucineudo pontuou que a pergunta que mais tem recebido é sobre o funcionamento da vida com quatro filhos. Uma jornada que, segundo ele, segue cheia de desafios, mas também de amor e aprendizado.

“A vida com eles tem sido o que ela sempre foi: esse correr que embrulha tudo, que esquenta e esfria, aperta e afrouxa, sossega e depois desinquieta. A vida com eles segue sendo essa passagem que quer da gente coragem, pois, como dizia o escritor Guimarães Rosa, ‘O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e mais alegre ainda no meio da tristeza!’”, concluiu.

 

 

 

 

 

Seja por meio de visitas semanais, de um atendimento profissional voluntário ou do custeio de uma atividade extracurricular, o apadrinhamento é uma chance de escrever um capítulo de afeto na vida de crianças e adolescentes que ainda não foram adotados. O Programa de Apadrinhamento do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), instituído por meio da Resolução do Órgão Especial n° 13/2015, viabiliza que esses meninos e meninas tenham acesso a oportunidades que os proporcionem uma melhor qualidade de vida.

O apadrinhamento consiste na inscrição de pessoas como voluntárias para oferecer suporte às crianças e adolescentes acolhidas em instituições. Em Fortaleza, ao todo, 33 padrinhos e madrinhas estão ativamente dedicados a essa ação, que pode ocorrer de três formas: financeira e afetivamente além de mediante a prestação de serviços.

 

Foto de uma mulher sentada monstrando um livro de leitura para cinco crianças também sentadasA psicóloga Nara Guimarães afirma que sua trajetória como madrinha foi e é essencial para sua formação humana e profissional

 

O primeiro é destinado àqueles que desejam contribuir economicamente para o desenvolvimento do apadrinhado, garantindo que suas necessidades sejam atendidas. Dessa forma, uma pessoa pode pagar por reforços escolares, cursos de idiomas, planos de saúde, atividades culturais ou quaisquer outras.

Eudenise Pessoa, servidora do TJCE aposentada, é responsável pelo pagamento de uma atividade esportiva escolhida por uma adolescente, e acredita na significância de sua atuação para o crescimento da apadrinhada. “Por mais de vinte anos, trabalhei no Juizado da Infância e Juventude, exercendo a função de assistente social e me sentia muito sensibilizada, pois constatávamos de perto a situação de uma grande quantidade de crianças e adolescentes experienciando carências de toda a sorte. Minha motivação para apadrinhar se deu no sentido de possibilitar o acesso a alguma atividade que colabore com o desenvolvimento de suas potencialidades”, explicou, destacando a importância da adesão a esta causa, igualmente por magistrados e servidores.

 

 

No apadrinhamento afetivo, a intenção é proporcionar experiências de convivência e de construção de vínculos fora do ambiente institucional. Nesses casos, padrinhos e madrinhas passam, de forma gradual, a conviver pessoalmente com os apadrinhados, participando do cotidiano da criança ou do adolescente em diversos momentos de sua vida.

“Quando fui até o abrigo para conhecer meu apadrinhado, logo criei um vínculo. Após um tempo dele me falando sobre sua irmã, decidi conhecê-la e me apaixonei por ela também. Hoje ambos frequentam minha casa uma vez ao mês, passeamos, conversamos, brincamos. Os meninos podem ter em mim alguém com quem contar”, conta Gabriela da Silva, madrinha da modalidade.

 

 

Já no apadrinhamento de serviço, que representa a maior parte das solicitações do programa, os padrinhos e madrinhas oferecem seus conhecimentos em prol das instituições de acolhimento. Por meio de colaboração voluntária, realizam atividades voltadas à cultura, saúde, ciência, educação e tecnologia.

 

 

Foto com vários pais, mães e filhos(as) Tribunal entregou 40 Mandados de Inscrição de Sentença de Adoção aos pais/mães que possibilitam registrar filhos(as) em cartório

 

A psicóloga Nara Guimarães, além de atuar em uma unidade de acolhimento, presta seus serviços. Para ela, o apadrinhamento acontece de maneira equilibrada, em que “o voluntário recebe em termos de aprendizagem, crescimento pessoal e, quem sabe, espiritual, ao mesmo tempo em que a instituição recebe o serviço, muitas vezes tão necessário”. Ainda, destaca que sua trajetória como madrinha foi e é essencial para sua formação humana e profissional. “Meu trabalho na Casa de Jeremias faz toda a diferença em minha vida, pois me proporciona ser uma cidadã mais consciente, com um olhar mais amplo para as causas sociais e disposta a lutar pelas demandas das classes mais necessitadas da nossa sociedade”, detalhou.

Aqueles que desejam se tornar padrinhos ou madrinhas devem se inscrever na comarca onde residem, desde que não estejam inscritos em cadastros de adoção e atendam aos critérios específicos de cada tipo de apadrinhamento.

 

Foto de uma criança observando os brinquedos Contato para informações sobre apadrinhamento: (85) 3108-2297/ 3108-2301 (WhatsApp) ou e-mail: apadrinhamento@tjce.jus.br

 

No apadrinhamento financeiro e afetivo, exige-se idade mínima de 25 anos e residência na comarca. O primeiro requer do candidato a comprovação de sua capacidade financeira, e, o segundo, a inexistência de processos ou inquéritos em andamento. Já no apadrinhamento por serviço, é necessário ter mais de 18 anos, residir na comarca e demonstrar a qualificação técnica ou científica para as atividades propostas.

 

 

 

Divisão de Procedimentos Administrativos e Judiciais do Juizado da Infância e Juventude:

Programa de Apadrinhamento de Crianças e Adolescentes “Estreitando Laços”

Telefone Fixo: (85) 3108-2297/ 3108-2301 (WhatsApp) E-mail: apadrinhamento@tjce.jus.br