Liberação de FGTS renova temores de que governo não aceitará desaceleração da atividade

JOTA.Info 2025-02-25

Em meio a um cenário inflacionário que inspira cuidados e maior contenção da política econômica para moderar o nível de atividade, o governo alimentou nesta segunda-feira os temores de parcela do mercado de que não aceitaria um esfriamento da economia.

A notícia de que o governo prepara uma medida para liberar o FGTS de quem aderiu ao saque-aniversário, fez operação de crédito antecipando esse recurso e foi demitido se somou a um discurso do presidente Lula dizendo que a economia vai crescer mais que o previsto (governo e mercado projetam alta na faixa de 2% para o PIB deste ano) e que quer dinheiro na mão do povo.

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A equipe econômica tem se esforçado para transmitir uma mensagem de que entende que é necessário esfriar a economia para debelar a ameaça inflacionária, e que teria conseguido o entendimento do restante do governo em torno disso.

Porém, desde a semana passada, quando o presidente Lula falou de medidas para o crédito aos empreendedores, e agora com essa notícia do FGTS e a nova fala sobre mais dinheiro em circulação, o governo cria ruídos e adiciona dúvidas sobre a política econômica.

Ministério do Trabalho e Caixa não divulgaram até o momento qual seria o potencial de liberação de recursos do FGTS com a medida que deve ser apresentada nesta terça-feira para as centrais sindicais, que vinham reivindicando mudanças na dinâmica do saque-aniversário.

Segundo a Caixa, em 2024 um total de 24,5 milhões de trabalhadores haviam aderido a operações de antecipação do saque-aniversário. Naquele ano, foram repassados às instituições financeiras R$ 32 bilhões e, desde a criação do mecanismo em 2020, R$ 77 bilhões.

A se confirmar que o desenho é voltado apenas para os trabalhadores demitidos e que têm empréstimo vinculado ao pagamento anual do saque-aniversário, o universo é relativamente restrito. E a liberação, segundo uma fonte, seria só sobre a parcela dos recursos que não estão travados para cobrir a operação de empréstimo, que hoje só podem ser sacados depois de dois anos. Outro interlocutor com conhecimento do FGTS estimou que, nesse contexto, o potencial de liberação seria da ordem de R$ 5 bilhões. Outra fonte, porém, diz que esse valor pode ser mais alto.

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Ainda assim, e mesmo que tenha mérito, o momento da medida parece estranho ao contexto de prioridade para derrubar os preços. A lógica parece ser tratar do assunto no mesmo contexto da discussão do novo consignado privado, que deve ser apresentado depois do carnaval, outra medida que, apesar de estrutural, está gerando dúvidas sobre o tamanho do impulso que o governo dará na economia, na contramão do Banco Central, que ainda não concluiu seu aperto monetário.

Dentro do festival de ruídos do governo, a ideia da medida vazou para a imprensa no mesmo dia em que o presidente Lula chamou cadeia de rádio e televisão para falar dos programas Pé-de-Meia, que terá seu primeiro depósito na conta dos estudantes nessa terça-feira, e Farmácia Popular. A medida roubou a cena.

Mesmo que possa ter algum apelo popular, o risco de o feitiço voltar contra o governo está aí. Se o impacto da medida for muito pequeno, menos mal. Mas como o governo não se deu ao trabalho de dimensioná-la, ficou a reboque dos temores. Não à toa, o dólar saltou para R$ 5,77.