Quarenta anos de democracia: uma conquista a ser defendida todos os dias
JOTA.Info 2025-04-18
Em 15 de março de 1985, o Brasil deu início à sua mais longa travessia democrática. Com a posse de José Sarney na Presidência da República, após a eleição de Tancredo Neves, impedido de assumir por motivos de saúde, encerrava-se o ciclo autoritário iniciado em 1964. A redemocratização não foi um presente concedido por generais benevolentes, mas uma conquista do povo brasileiro, mobilizado nas ruas por meio do movimento Diretas Já, que uniu diferentes forças políticas em torno de um objetivo comum: o direito de escolher seus governantes.
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Aquela luta, que teve como protagonistas nomes como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Franco Montoro, entre outros, e muitos artistas, mostrou que a democracia nasce do diálogo, da convivência entre diferentes e da crença no futuro compartilhado.
Grandes nomes da cultura brasileira, como Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Fafá de Belém, Milton Nascimento e Osmar Santos usaram suas vozes, palcos e canções para mobilizar consciências e fortalecer o espírito democrático. Como disse Montoro, então governador de São Paulo: “A democracia não é o direito de ser igual, mas o dever de ser diferente.” Uma frase que, ainda hoje, ecoa como antídoto necessário contra os ventos da intolerância.
Ulysses Guimarães, ao promulgar a Constituição de 1988, foi categórico: “Temos ódio e nojo da ditadura. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações.” Não há espaço para relativizações. A ditadura foi um período de arbítrio, censura, tortura e negação das liberdades fundamentais. E é preciso afirmar isso com todas as letras, especialmente em tempos de revisionismo histórico e discursos negacionistas que buscam reescrever o passado e atacar os alicerces da vida democrática.
Aos quarenta anos, a democracia brasileira está viva e, por isso mesmo, desafiada. Enfrenta uma era de polarização radical, desinformação, ataques às instituições e banalização da mentira. As fake news, muitas vezes propagadas por agentes públicos, solapam a confiança da sociedade e corroem o espírito democrático. Em um ambiente onde o contraditório é visto como ameaça, o debate vira confronto, e a política se transforma em guerra cultural.
Mas a democracia não é unanimidade, é divergência. Como bem lembrava Mário Covas, “a democracia é, antes de tudo, uma convivência de contrários”. É na diferença que reside sua força, e no respeito às instituições, sua garantia de continuidade. Por isso, é preciso reafirmar que instituições como o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, o Ministério Público e a imprensa livre não são obstáculos ao povo, são pilares da República.
Fernando Henrique Cardoso, presidente eleito em 1994, dizia que “a democracia não é o caminho mais fácil, mas é o mais seguro”. É verdade. Ela exige paciência, escuta, compromisso com a verdade e abertura ao outro. Tancredo Neves já dizia: “A esperança venceu o medo.” Mas essa esperança precisa ser cultivada diariamente, não apenas com palavras, mas com gestos, políticas e educação para a cidadania.
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Os quarenta anos da redemocratização brasileira não devem ser apenas motivo de celebração, mas também de vigilância e compromisso. Que essa memória não se perca, e que os líderes de ontem, tão diferentes entre si, mas unidos por um ideal comum, sirvam de exemplo para os desafios de hoje. Que saibamos preservar o que conquistamos e construir, com responsabilidade e coragem, uma democracia cada vez mais sólida, justa e inclusiva.
Porque, como já aprendemos, quando o autoritarismo cresce, é sempre a democracia que paga o preço e o povo que sofre as consequências.
Exemplo recente e simbólico dessa capacidade de união foi a aliança entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin na eleição presidencial de 2022. Antigos adversários, colocaram de lado suas diferenças em nome da defesa da democracia, diante de ameaças reais e evidentes de retrocessos institucionais que poderiam levar o país novamente a um regime autoritário. Essa escolha reafirmou a maturidade política de quem compreende que, quando a democracia está em risco, o que nos une deve ser sempre mais forte do que aquilo que nos separa.