Aproximação entre Tarcísio e seu vice faz Kassab rever planos

JOTA.Info 2025-08-15

Presidente do PSD e secretário de Governo de São Paulo, Gilberto Kassab tem seus planos sobre a disputa presidencial de 2026 afetados pelos recentes movimentos de Tarcísio de Freitas. Para além dos eventos e declarações públicas, nos bastidores do Palácio dos Bandeirantes a relação entre o governador de SP, aliado da família Bolsonaro, e seu secretário vive um de seus piores momentos desde a aliança firmada entre ambos em 2022.

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São dois os principais motivos para o afastamento. O primeiro é a aproximação de Tarcísio com seu vice, Felício Ramuth, que chegou ao cargo por indicação do presidente de seu partido, o PSD, e iniciou o mandato na condição de preposto dele, esquentando a cadeira para projetos futuros de Kassab. O outro é uma articulação que pode dar ao prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), grande protagonismo na eleição estadual de 2026.

Destino de Ramuth: vice ou cabeça de chapa

A relação de Ramuth com Tarcísio se fortaleceu muito por conta do trabalho do vice na chamada “cracolândia”, a região do centro de São Paulo que há décadas é pesadelo para o Bandeirantes e a Prefeitura da capital. Recentemente, o governador conversou com Ramuth e afirmou que, se decidir disputar a reeleição, não haverá mudança na composição da chapa. Ou seja, o vice seria mantido no cargo. Bom para o PSD, mas não tão bom para Kassab.

Em outro cenário, caso o governador concorra ao Planalto, Ramuth seria seu candidato ao governo e disputaria a eleição no cargo. A conversa contraria frontalmente os planos traçados por Kassab para o seu futuro em São Paulo e faz com que o secretário se movimente em busca de alternativas.

Consequência para os planos de Kassab

A estratégia inicial traçada por Kassab passa pela substituição de Ramuth por ele próprio na vaga de vice se Tarcísio disputar a reeleição. No caso de Tarcísio concorrer ao Planalto, Kassab também quer ser seu vice ou o candidato ao governo do Estado com o apoio do atual mandatário. As duas hipóteses são consideradas pouco prováveis atualmente pelo entorno do governador.

Kassab também foi informado de que está em curso uma articulação para contemplar Jair Bolsonaro (PL) e Ricardo Nunes em São Paulo. Caso Tarcísio dispute a reeleição, o atual prefeito pode ocupar a vaga de vice, abrindo caminho para o coronel Mello Araújo (PL), aliado de primeira hora do ex-presidente, assumir a prefeitura da maior cidade do país.

Em caso de vitória, esse arranjo transforma Nunes em candidato natural à sucessão de Tarcísio em 2030, algo que Kassab também almeja. Na hipótese de o atual governador se lançar para presidente, o prefeito seria o candidato ao governo já no ano que vem, com Mello Araújo assumindo a administração municipal.

Os dois cenários futuros desagradam o secretário de Governo, que se lançou em articulações que têm por objetivo manter seu poder na política e fazer acenos ao presidente Lula (PT). No âmbito nacional, Kassab permanece incentivando, com declarações públicas, os governadores Ratinho Jr. (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS) a manterem suas pré-candidaturas a presidente.

Esses movimentos agradam o Planalto, que enxerga neles uma maneira de dividir a centro-direita e desestimular Tarcísio a alçar vôo nacional. Aliados de Lula avaliam que o governador de São Paulo é um candidato mais difícil de ser derrotado do que algum nome da família Bolsonaro.

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Nos últimos dias, Kassab deixou o isolamento de seu gabinete no para uma série de eventos e entrevistas. Em uma delas, ao programa Canal Livre (TV Band), criticou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por defender o tarifaço de Donald Trump. A declaração, em sintonia com a posição do Palácio do Planalto, foi dada logo após ele ter se encontrado com o presidente Lula, em Brasília.

Para piorar sua relação com o bolsonarismo, fundamental para a candidatura de Tarcísio a presidente, Kassab criticou a imposição da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. Segundo ele, a lei “não foi feita para isso”. Nas redes sociais, o secretário virou alvo dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Questionado sobre o futuro de Tarcísio, Kassab dá declarações dúbias, afirmando que ele é um ótimo nome e terá o apoio do PSD, mas que só será candidato a presidente se a vitória estiver praticamente certa, o que não ocorre neste momento porque Lula, segundo ele, é favorito, e se houver uma espécie de “clamor” dos mundos político e econômico em torno do governador.

No entorno mais próximo de Tarcísio no Bandeirantes, essas declarações são interpretadas como ruins para o governador, seja porque ele é apresentado como um político que titubeia diante de desafios, seja porque é pouco provável o surgimento de um grande movimento pró-Tarcísio sem a anuência de Bolsonaro.