Vejo com simpatia a escolha de uma mulher, diz Barroso após anunciar saída do STF
JOTA.Info 2025-10-09
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que vê com “simpatia” ser uma mulher a escolhida para substituí-lo na Corte. No final da tarde desta quinta-feira (9/10), Barroso anunciou sua aposentadoria antecipada. Ele afirmou que deve ficar no cargo, no máximo, até o final da próxima semana.
“Vejo com simpatia a escolha recair sobre uma mulher, mas não quero com isso dizer que estou excluindo diversos cavalheiros que também têm a legítima pretensão de vir e o merecimento”, declarou, em entrevista a jornalistas após a sessão plenária.
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Barroso também afirmou ser defensor de mais mulheres nos tribunais superiores, “como uma regra geral”. Apesar disso, declarou que há “homens e mulheres capazes” para assumir o posto no Supremo.
“Há muita gente boa no país, mulheres competentes, homens competentes. Ninguém é indispensável; as pessoas têm características diferentes”, afirmou.
Entre os nomes com mais força nos bastidores do Planalto para ocupar a vaga estão o atual advogado-geral da União, Jorge Messias; o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas; o senador Rodrigo Pacheco; e o atual ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Carvalho.
Barroso disse torcer para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja “como tem sido” em suas escolhas para a Corte. “O presidente tem acertado, e acho que vai acertar de novo”, disse, ao citar os nomes de Cristiano Zanin e Flávio Dino.
A escolha de ministros do STF cabe ao presidente da República. O indicado deve passar por sabatina e votação no Senado Federal para ter o nome confirmado.
O ministro do STF afirmou que não poderia ter anunciado sua aposentadoria antes, em momentos em que entendesse que o país estivesse “confuso” ou “convulsionado”. Ele citou, por exemplo, que não poderia sair antes do julgamento das ações penais sobre o golpe de 8 de Janeiro, nas quais a 1ª Turma aplicou penas a acusados.
“Achei que agora o momento está tranquilo. O Brasil nunca é 100% tranquilo, mas o país está institucionalmente muito bem e achei que esse era o momento em que eu sairia sem maior abalo ou consequência”, declarou.
O magistrado declarou que sua decisão “não tem nenhuma relação com os Estados Unidos”, ao comentar as sanções impostas pelo país a autoridades do STF.
“Espero que isso se resolva. Porque acho que cumprimos bem nosso dever e não me é indiferente o tipo de sanção que recai sobre o ministro Alexandre e a esposa dele. Foi um movimento errado, baseado numa narrativa falsa, e que acho que a gente tem que continuar a desfazer”, afirmou.
“A mim, pessoalmente, eu tenho ligações acadêmicas com os EUA, de longa data. Estudei lá, e não me é indiferente, mas vivo a vida como ela vem. Então, se consertar isso, vou ficar muito feliz e, se não consertar, a vida segue.”
Conforme Barroso, a decisão por deixar a Corte partiu de uma “sensação no coração” de ter cumprido um ciclo. “Achei que era hora de abrir espaço para pessoas com outras ideias. Tem que saber ceder lugar na hora certa”, declarou.
Barroso disse não ter pretensão de ocupar outro cargo público. “Não tenho nenhuma pretensão, nem de embaixada nem de coisa alguma. Nunca insinuei ao presidente que queria, nem pedi.”
O ministro do STF afirmou não ter planos para o futuro. Disse que quer servir ao Brasil como um “intelectual público”, que não tem projeto para voltar a advogar e que seus próximos compromissos são acadêmicos: ele aceitou um convite para participar de atividades no Instituto Max Planck, na Alemanha, em novembro, e para atuar como professor visitante na Sorbonne, na França, em janeiro de 2026.
“Não estou abandonando a vida nem o Brasil”, disse. O ministro afirmou que vai dividir seu tempo entre Brasília e o Rio de Janeiro.