Teich admite que distanciamento é a medida mais eficaz enquanto Brasil estiver “navegando às cegas”

JOTA.Info 2020-04-29

Prometida para esta semana, a diretriz do Ministério da Saúde para flexibilização do distanciamento social esbarrou no aumento de número de casos e de óbitos por coronavírus registrados no País, que ultrapassou a China em número de mortes. Pela primeira vez desde que assumiu o cargo, o ministro Nelson Teich admitiu com clareza que o isolamento é necessário para o Brasil neste momento. 

Segundo o ministro, faltam dados sobre o percentual de contaminação da sociedade e sobre o potencial de transmissão relacionado a casos assintomáticos. Nesse sentido, o governo tem buscado ampliar a testagem para adotar estratégias, ainda segundo Teich, mais eficazes no combate à Covid-19.

“Os testes que a gente faz não permitem, hoje, saber exatamente qual é essa realidade. Sem esse conhecimento, você literalmente está navegando às cegas. Essa que é a grande verdade. Então, um isolamento que radicaliza é necessário porque você não sabe o que fazer. A única coisa que você sabe é que o distanciamento diminui o risco de contágio”, afirmou, nesta quarta-feira (29/4), em audiência pública no Senado. 

Alvo de questionamentos de vários senadores, o ministro avaliou que a questão deve ser tratada com profundidade e voltou a dizer que haverá orientações customizadas para diferentes cidades, estados e regiões. 

“O Ministério da Saúde nunca mudou a orientação original de manter o distanciamento. Onde a gente está vendo uma alteração em relação a isso, é uma decisão dos governadores. A nossa orientação, desde o começo, é o distanciamento”, afirmou o ministro.

Teich deixou claro que a aplicação da diretriz em formulação não deverá ser imediata, sendo um dos pré-requisitos para a recomendação a constatação do início de uma curva descendente de casos. O ministro tratou o isolamento como uma “ferramenta” que pode ser bem ou mal usada. 

“É importante que já tenha um planejamento prévio quando isso acontecer para que tenha critérios: quem sai, como sai, qual subgrupo sai. Então, o fato de a gente estar planejando agora não quer dizer que a gente vai sugerir uma flexibilização no momento em que a curva ainda está ascendente. Perguntar se fica em casa ou se não fica em casa é simples demais; é uma resposta simplista para um problema que é extremamente heterogêneo. Então, o ideal é que a gente tenha os testes: quem é positivo vai ficar; quem for mais velho vai ficar; pessoas que tiveram contato vão ficar. Vai depender da curva que existe em cada região, vai depender de quantos casos tiveram em cada região”, explicou. 

Politização do distanciamento

O ministro criticou, ainda, a polarização política em torno da questão, um dos pontos centrais dos embates públicos entre o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e o presidente da República, Jair Bolsonaro. 

“Eu não vou sentar e discutir esse tipo de abordagem politicamente. Eu vou discutir o que é melhor para a sociedade. Eu vou discutir: ‘se eu faço isso, morrem x de Covid, mas dependendo do que eu fizer pode ser que morra muito mais gente de outras coisas’. Tem mais de 1 milhão e 300 mil pessoas que morrem no Brasil por ano. É por isso que eu digo: eu olho isso tentando enxergar o equilíbrio ideal para a sociedade. E aí realmente seria muito bom se a gente tentasse trabalhar as perguntas, as discussões e os trabalhos em cima de uma coisa mais técnica, mais voltada para a sociedade e não tentando criar em cima de polarização. Acho que seria o ideal para mim”, analisou.