Agravada pela pandemia, inclusão digital do país represa potencial econômico
JOTA.Info 2021-08-11
Desde o início de sua popularização, no final dos anos 90, a internet revoluciona da política aos relacionamentos. Durante a pandemia, seu uso foi acelerado devido às necessidades de distanciamento social. Entretanto, parte da sociedade segue sem acesso à rede, deixando um número preocupante de pessoas para trás, agravando o abismo de desigualdade no Brasil.
No final de 2019, o país contava com 39,8 milhões de pessoas sem conexão com a internet, o que representa 21,7% da população acima dos 10 anos de idade. Os dados são da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados melhoram a cada ano. De 2018 para 2019, ocorreu um salto de 6,1 milhões de habitantes on-line – mas o Brasil ainda é uma nação atrasada neste quesito.
Apesar disso, a expansão continua. Em busca de conforto e segurança, 54% dos moradores de bairros da periferia de São Paulo, das classes C e D, utilizaram os apps de mobilidade com maior frequência em 2020, de acordo com estudo da 99, empresa de tecnologia, com o Datafolha. Em 2021, pesquisa feita pela 99Food em parceria com a Ipsos e Datafolha mostrou que 64% dos entrevistados passaram a pedir mais delivery na pandemia, sendo que 62% pretendem manter os pedidos mesmo após a pandemia. A porcentagem é ainda maior entre as pessoas acima de 60 anos (80%).
“Enxergamos uma tendência e um novo comportamento do consumidor a partir desses dados”, comenta Danilo Mansano, diretor-executivo da 99Food. “Os aplicativos trouxeram segurança e conveniência na pandemia, mas estão se tornando parte do cotidiano dos brasileiros”.
Mais inclusão, mais oportunidades
As oportunidades oferecidas pela tecnologia são muitas, por isso se mostra vital o investimento nesse setor. No Brasil, há mais de um smartphone ativo por habitante: são 234 milhões de aparelhos para 213 milhões de pessoas. Para alguém integrar a inclusão digital, entretanto, não basta possuir um dispositivo, mas também ter alcance à internet, além de conhecimento sobre essas ferramentas.
“A população precisa estar apta a usar as tecnologias para ganhar produtividade. Trata-se de uma cadeia de efeitos positivos. O conhecimento gera crescimento econômico, que gera conhecimento e mais crescimento econômico”, afirma Juliana Inhasz, especialista em macroeconomia e professora do Insper. “Basta olhar para países asiáticos. Acelerar esse processo pode criar receita, poupança e eficiência produtiva.”
Cerca de 70 milhões de brasileiros não contam com nenhum acesso ou tem acesso precário à internet (por exemplo, com pacotes limitados e sem Wi-Fi), de acordo com a pesquisa TIC Domicílios, de 2018, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Lugares afastados, mesmo nos grandes centros urbanos, não possuem a mesma qualidade de sinal. Ou seja, assistir a um vídeo ou fazer downloads se mostra mais difícil para parte dos usuários.
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Durante a pandemia, por exemplo, viram-se casos de extremo prejuízo para a população. Quem sofreu mais economicamente durante a crise sanitária teve perspectiva de alívio com o auxílio emergencial, mas houve dificuldades para entrar no aplicativo Caixa Tem, e filas se acumularam nas agências bancárias. As informações básicas de saúde, a exemplo de notícias sobre postos, vacinas e sintomas, tão essenciais em um período de desespero e notícias falsas, também chegaram mais rapidamente a quem tinha acesso à internet. Na educação, a já castigada escola pública ficou para trás na era das aulas on-line. Já os negócios que investiram no digital, como os deliveries nos restaurantes, multiplicaram suas chances de sobrevivência. “Precisamos tomar cuidado para que esse ímpeto de digitalização visto nesse período não acabe se perdendo agora”, afirma Juliana, do Insper.
ONG de Santa Catarina, o Comitê para Democratização da Informática (CPDI) trabalha desde 2001 para a inclusão, principalmente com grupos em situação de vulnerabilidade social. Vinte mil pessoas foram atendidas nesse período, como idosos, filhos de produtores rurais, jovens interessados em programação, entre outros. Há também um projeto de reciclagem de eletrônicos, no qual os resíduos com possibilidades de reuso são recuperados e viram instrumento de inserção social. “Muita gente tem celular hoje mas o utiliza para redes sociais, comunicação instantânea. Não possui a visão do potencial que esse equipamento pode ter para a vida profissional, gerar renda, aprender”, afirma Heitor Blum, diretor executivo da entidade. “Nosso papel é poder dar oportunidade a essas pessoas e reduzir a desigualdade.”
A inclusão digital não é importante apenas para o usuário em si, mas para o país todo. Ela é indicadora de desenvolvimento de uma nação. Fomentar a conexão da população traz benefícios à economia, à educação, à cultura e a uma infinidade de outros campos. O governo federal investe na evolução dessa seara, com programas como Nordeste Conectado e o próprio leilão do 5G, porém ainda de forma insuficiente. Quanto mais a tecnologia avança, mais quem está fora dela se vê excluído da sociedade. A internet possui imensas possibilidades de derrubar barreiras e precisamos evitar que ela nos separe ainda mais.