Com Moro fora, Bolsonaro herda maior fatia de seus 12,5 milhões de eleitores
Consultor Jurídico 2022-04-04
Desde que rompeu com o governo de Jair Bolsonaro – em meados de abril de 2020 –, o nome de Sergio Moro é cogitado para a presidência do país. Por isso, foi sem surpresa que ao final de 2021 o ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro virou pré-candidato ao cargo máximo do Poder Executivo.
De candidato dos sonhos do mercado financeiro nas eleições de 2022 à desistência estratégica, Moro decidiu migrar do Podemos para o União Brasil e retirou sua pré-candidatura presidencial, deixando órfãos cerca de 12,5 milhões de eleitores em todo o Brasil. A pergunta de um milhão hoje é saber para onde irão os votos de Moro com retirada de sua pré-candidatura?
A viabilidade de Moro
Sergio Moro já foi a pessoa mais popular do país, no auge das investigações e do julgamento da Lava Jato. Era recebido com aplausos em aviões e nas ruas. Eu mesmo já presenciei dois episódios de apoio ao ex-juiz. Seu prestígio se estendeu também ao exterior, onde constantemente dava palestras, não raro se expressando em inglês.
Em dezembro de 2021, quando retomou seu projeto de disputar a presidência do país, Moro já partiu de dois dígitos nas pesquisas populares, chegando a registrar 14% no agregador no agregador do JOTA. Nos números mais recentes do agregador, ele registrou 8,4% de intenções de voto neste início de abril.
O que muda na equação sem Moro?
A resposta mais curta é nada. Existe uma intersecção enorme entre os apoiadores do lavajatismo e bolsonarismo. Os lavajatistas eram bolsonaristas e vice-versa até pouco tempo atrás. São eleitores que num eventual dilema entre Lula vs. Bolsonaro podem fazer o ‘voto útil’ novamente em Bolsonaro para evitar um “mal maior”. Isso ocorre porque a distância ideológica entre Moro e Bolsonaro é bem menor do que a distância entre Moro e Lula. Por isso, acredito que o principal impacto da retirada – ainda que temporária – da candidatura de Moro é a antecipação do que já aconteceria depois, no segundo turno da eleição.
A resposta mais longa, todavia, tem mais nuances. Em primeiro lugar, qual será o tamanho da migração de eleitores para Bolsonaro? Em segundo lugar, onde essa migração deverá produzir mais impacto? No resultado do consenso das pesquisas que perguntaram recentemente sobre a segunda opção de voto dos eleitores de Moro, a distribuição é a seguinte:
- Jair Bolsonaro: 25%
- Branco/Nulo: 24%
- Ciro Gomes: 12%
- Lula: 12%
- Indecisos: 10%
- João Doria: 8%
- Outros: 9%
Efeito numérico
Com base nessa evidência podemos calcular o fluxo e a magnitude do incremento na intenção de voto para Bolsonaro nos próximos dias: [(25/100) * (8.4/100) ] * 100 = 2,1% (3,1 milhões de eleitores). Usando mais uma vez as estimativas do agregador do JOTA, o presidente então passaria dos atuais 30,4% para 32,5% já nas próximas sondagens.
Esse número pode ser ainda maior com a definição dos que se declaram indecisos ou que preferem votar branco ou nulo na ausência do nome do ex-juiz nas urnas. Considerando também esses valores no cálculo, Bolsonaro poderia ganhar, em vez dos 2,1% estimados inicialmente, cerca de 5% de apoio do eleitorado do país que apoiavam Moro: [(59/100) * (8.4/100)] * 100 = 4,96% (7,3 milhões de eleitores).
Como mostra também a distribuição de voto acima, até Lula e Ciro devem herdar parte dos órfãos de Moro. Em menor magnitude do que Bolsonaro, o petista e o pedetista devem amealhar algo em torno de um e dois pontos. Ciro poderá herdar ainda mais do que Lula, conquistando o eleitor que não quer nem Lula nem Bolsonaro. Doria, apesar de exercer menor atração para os eleitores de Moro, por ser a única opção à direita com pré-candidatura confirmada neste momento, deve ser beneficiado também com um ou dois pontos percentuais já nas próximas pesquisas.
Efeito geográfico
Outro efeito imediato é o geográfico. As principais bases de apoio à candidatura do ex-juiz estão concentradas nas regiões Sudeste e Sul do país. Na atualização mais recente do agregador, Bolsonaro tem a preferência de 31% dos eleitores no Sudeste e 35% no Sul, enquanto Lula tem respectivamente 37% e 31%. Por isso, nas próximas semanas provavelmente iremos presenciar um afunilamento da distância de Bolsonaro para Lula no Sudeste e aumento da distância no Sul.
Vamos monitorar.